A idade do amadurecimento, descobertas, novo estilo, a mudança no corpo, cuidados com a saude, o casamento,os filhos, os amigos,os amores... As docês lembranças de um tempo que não volta mais. O exagero em continuar jovem nem sempre é uma boa alternativa, existem coisas mais importantes para serem vividas.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Casamento a longo prazo, causas do desgaste
O matrimônio deteriora-se quando não se renova, quando se permite que entre nos trilhos da rotina.
Há uma rotina indispensável e benéfica que nos permite cumprir com regularidade, constância e pontualidade os nossos deveres espirituais, familiares e profissionais. Esta rotina constrói uma estrutura de vida sólida, cria um comportamento homogêneo que nos ajuda a libertar-nos da espontaneidade meramente anárquica, dos caprichos emocionais dissolventes e perniciosos.
Mas existe uma outra rotina, a rotina mortífera, que deve ser afastada como a peste. É uma rotina que, pouco a pouco, como uma sanguessuga, vai dessangrando o con vívio conjugal. Todos os dias um pouco. Imperceptivelmente, endurece-nos, converte os nossos atos em algo mecânico, torna-nos autômatos, robôs sem vida, extingue o calor e a alegria de viver e de amar. Esta rotina provoca um desgaste progressivo na vida familiar, uma perda de energias, uma espécie de anemia vital que torna a existência cinzenta, anódina, incolor.
Lembro-me daquela música dos anos 60 cantada por Ronnie Von: "A mesma praça, os mesmos bancos, as mesmas flores, o mesmo jardim, tudo é igual, assim tão tris te..." Alguns poderiam queixar-se, de forma semelhante: "A mesma esposa, a mesma família, o mesmo trabalho, a mesma paisagem, a mesma "droga de sempre"... É tudo tão triste e cansativo..."
Talvez se consiga continuar caminhando mesmo assim. Externamente, o casal vai mantendo as aparências, como um móvel visitado pelo cupim, corroído por dentro. Por fora, nada se percebe, mas de repente tudo desmorona, os cenários desabam, as fachadas caem e aparece um panorama desolador: "Meu Deus, toda a minha vida, daqui para a frente, vai ser igual"... E entra-se numa espécie de letargia mortífera. Muitas infelicidades, muitas crises conjugais, muitas deserções são provocadas por esse fenômeno.
Quando na nossa vida diária não "contemplamos o amor", não renovamos o amor, caímos nessa rotina que mata. Os mesmos bancos, as mesmas flores, o mesmo jardim, a pesada monotonia do que é sempre igual, deve-se - como dizia ainda a canção - a que "não tenho você perto de mim". Quando o amor está ausente, tudo é tão triste...!
Você talvez já tenha passado por uma experiência parecida. Estava trabalhando numa tarefa extremamente enfadonha, repetitiva, rotineira... e pensava: "Tomara que termine logo"... De repente, alguém que você ama muito pôs-se ao seu lado e disse-lhe: "Deixe que lhe dê uma mão. Ao menos, deixe-me ficar com você até terminar"... E, naquele momento, você murmurou: "Tomara que não termine nunca!" As mesmas circunstâncias mudam substancialmente quando o amor está presente. A mesma família, a mesma esposa..., mas tudo é diferente porque se soube remoçar o amor: as pupilas, dilatadas pelo amor de Deus, pelo amor ao cônjuge e aos filhos, conseguem enxergar uma nova família, uma nova esposa, um novo trabalho todos os dias.
O poeta francês Lamartine passava horas a fio olhando sempre para o mesmo mar. Alguém lhe perguntou certa vez: "Mas não se cansa de olhar sempre a mesma vista?" - "Não - respondeu -; por que será que todos vêem o que eu vejo e ninguém enxerga o que eu enxergo?" A sua alma de poeta permitia-lhe ver realidades diferentes nas paisagens de sempre. A alma contemplativa que o amor nos confere dá-nos também essa acuidade espiritual que nos permite ver mundos novos por trás das aparências sempre iguais do monótono viver diário. Em contrapartida, quando não existe uma viva preocupação por renovar o amor como o fator mais importante da vida conjugal e familiar, aparecem esses matrimônios corroídos pela monotonia.
Para a grande, imensa maioria das pessoas, a fidelidade é um requisito fundamental de um relacionamento amoroso, mas sabemos que não é o único.
A doutora em Psicologia e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo, Maria Lúcia Teixeira Garcia, trabalhou em 2005 no projeto "Da Utopia do Amor Romântico ao Cotidiano do Casamento". Ela fez uma pesquisa com mulheres casadas há mais de 15 anos de classe média alta. Maria Lúcia explica: de onde vem a maioria dos problemas no casamento?
"Os problemas do casamento se derivam dessa idealização da existência do amor romântico como centro do meu projeto de conjugalidade, de viver um casamento. E o afastamento desse ideal vai resultar na constação de que meu casamento vai bem ou mal e vai dizer o que eu preciso fazer para mantê-lo."
A vida não é um conto-de-fadas e grandes problemas surgem... na rotina. No trivial. Nas mínimas desavenças.
"Mas há aí uma questão que diz respeito ao cotidiano que vai marcar e demarcar um conjunto de negociações que esse casal vai ter que fazer. Quem vai lavar o copo sujo? Quando está na sua casa, a negociação diz respeito à sua casa. Quando você se casa, você transporta para a nova casa a necessidade de fazer novas combinações. E esse conjunto de acertos e combinações é um projeto que tem que ser revisto cotidianamente. Você não pode dizer que aquilo que eu idealizei será igual. Uma mulher me dizia "eu nunca imaginei que meu marido depois do banho jogava a toalha em cima da cama. Na casa dele ele devia fazer isso e a mãe tirava. Estou dando um exemplo de cotidiano."
A psicóloga Carla Zeglio é autora do livro "Amor e Sexualidade - Como sexo e casamento se encontram". Ela afirma que tempos desencontrados podem atrapalhar o casamento.
"Imagina aqueles casais que o homem gosta de fazer sexo de manhã e a mulher à noite. E de noite ela está cansada e de manhã ele está cansado. Isso pode causar um problema de encontro no sexo. Esse é um exemplo básico para a gente poder entender o quanto a sexualdiade paga pela dificuldade relacionada a esse casal."
O sexo muitas vezes não provoca problemas no casamento. São os problemas do casamento que pioram a vida sexual.
"O que a gente ve é que o desentendimento do casal é um facilitador para problemas sexuais. Então, os casais acabam buscando e quando a gente faz um diagnóstico, vemos que esse casal também tem problemas na sexualidade."
Como as mulheres se relacionam com esses problemas? A pesquisa de Maria Lúcia Teixeira parece indicar caminhos, pois nenhuma das pesquisadas tinha intenção de se separar. De acordo com a pesquisa, as queixas das mulheres se dividem em três grupos.
"As queixas são as mais variadas. Elas são organizadas em três grupos. Um diz respeito aos problemas do cotidiano. São as que se dizem felizes no casamento. Problemas no ar condicionado, controle remoto, problemas que não afetam o cotidiano do casamento. Existe outro grupo que afeta. Há divergência como deve ser a educação dos filhos, a satisfação, exclusividade da relação sexual no casamento. Quando isso deixa de existir, vira um problema. E questões econômicas, diferença de salário entre homens e mulheres, as tarefas de manutenção da casa, isso tudo compromete aquele projeto de sermos felizes para sempre,"
A terapeuta Lidia Rosenberg Aratangy, autora do livro "O Anel Que Tu me Deste, o Casamento no Divã", em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em março de 2010, afirma que o casamento dá sinais de desgaste quando as brigas se tornam repetitivas, as tréguas são cada vez mais curtas e os ressentimentos mais duradouros. Quando já não se escuta o parceiro porque acredita-se saber o que ele vai dizer, quando já não há mais sequer desentendimentos, porque ninguém mais busca o entencdimento.
A aliança de casamento é um circulo e simboliza uma ligação perfeita entre o casal. O círculo representava para os egípcios a eternidade. O amor deve durar para sempre. Os gregos, após o casamento, usavam anéis de ímã no dedo anelar da mão esquerda. Acreditavam erroneamente que por dentro desse dedo passa uma veia que vai direto ao coração. Mais tarde, os romanos adotaram o costume. E ele continua até hoje.
Manter essa aliança não é uma tarefa fácil. A pesquisadora Carla Zeglio acha que não existe fórmula para um casamento feliz, mas aponta caminhos.
"Não existe fórmula nenhuma, o que existe é a possibilidade de envolvimento do casal, da disponibildiade de ambos para cuidar pra que essa vivência seja gostosa. Vá passear de mão dada, vá olhar o mundo, faça pequenas coisas que não demandam muita coisa. E cuide da relação. Essa é a dica. Preparem comida juntos, tomem banho juntos, façam bastante carinho porque todo o resto passa, o que sobra é o relacionamento estruturado. Não deixe de beijar seu marido, nunca, como beijava quando eram namorados."
Como se percebe, não existe fórmula secreta para um casamento feliz, quanto mais eterno. Nem existe um modelo de casamento que predomine. Hoje em dia, até casamentos com camas separadas, banheiros separados, quartos separados, até casa separadas existe por aí. Desde que o homem é homem e a mulher é mulher a convivência entre os dois é uma luta. A diferença é que, hoje em dia, os problemas são mais assumidos e discutidos. Quem sabe se no futuro o homem e a mulher, ao se entenderem mais e melhor, não vão enxergar com mais clareza os motivos que os levam a ser tão diferentes e a quererem viver cada vez mais próximos?
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